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Apresentação

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Mobilização Precoce - Análise de estudo, 2021

Para tratar desse assunto escolhemos um artigo de revisão sistemática com análise qualitativa publicado na revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde no ano de 2021.

O artigo aponta os efeitos da fisioterapia motora no paciente com fraqueza muscular adquirida na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A fraqueza muscular adquirida é uma condição que acomete tanto a musculatura respiratória, quanto a musculatura periférica de pacientes que estão na fase de recuperação de uma doença grave. A incidência varia em torno de 30 a 60% dos indivíduos acamados e sob ventilação mecânica (VM), sendo a principal causa o imobilismo e inatividade no leito por períodos prolongados, além do uso indiscriminado de medicamentos.

Essa condição gera prejuízos no prognóstico dos pacientes, tanto a curto quanto a longo prazo. A curto prazo podemos observar um aumento no tempo de internação com consequente retardo no desmame ventilatório ou mesmo falha na extubação. Já a longo prazo, os impactos acometem também a função cognitiva e psicológica além da parte física, com isso há um declínio na qualidade de vida e na habilidade em realizar as atividades de vida diária (AVD´s).

Nesse contexto, a fisioterapia motora se mostra capaz de prevenir e/ou minimizar os efeitos deletérios do imobilismo com objetivo de preservar e/ou ganhar força muscular, melhorar a função física e amenizar as sequelas pós alta hospitalar.

Oito estudos foram referenciados pelo autor:

Estudo 1

Utilizou uma amostra de 14 pacientes no Grupo Controle (GC) que foram submetidos a mobilização passiva + exercícios ativo-assistidos, sendo uma sessão diária 5x por semana, enquanto que o Grupo Mobilização Precoce (GMP) participou de um protocolo de mobilização precoce sistematizado, 2x ao dia, todos os dias da semana.

Os pacientes que foram submetidos a mobilização precoce apresentaram aumento significativo na força muscular inspiratória e na força muscular periférica quando comparado ao GC. Porém em relação ao tempo total de VM, tempo de internação na UTI e tempo de internação hospitalar não houve diferenças significativas entre os grupos.

Estudo 2

Nesse estudo foram incluídos 463 pacientes de acordo com status funcional, esses foram divididos em quatro planos. 

- Primeiro plano: incluído indivíduos incapazes de colaborar com a terapia, restrito ao leito e sedados.

- Segundo plano: pacientes restritos no leito porém capazes de colaborar com a terapia e com mínimo suporte realizam sedestação à beira leito.

- Terceiro plano: indivíduos capazes de tolerar treinos, posição ortostática e deambulação com auxílio do terapeuta em distâncias limitadas.

- Quarto plano: aptos a deambular sozinho e suportar a progressão do treino de deambulação.

A intervenção incluiu estimulação elétrica, deambulação, sedestação assistida à beira leito, ortostatismo e exercício ativo com cicloergômetro. Realizada uma sessão ao dia até a alta e estimulação neuromuscular por 30 min. A média de internação foi de 5 a 28 dias na UTI.

Dos 463 pacientes submetidos ao protocolo de reabilitação precoce na UTI, 83 (17,9%) corresponderam de forma positiva ao tratamento, esses foram intitulados como respondedores 1.

Outros 349 pacientes (75,4%) denominados respondedores 2, não tiveram perda de status funcional em função do plano de intervenção.

Por fim, 31 (6,7%) pacientes não responderam ao tratamento e evidenciaram piora no quadro clínico ao longo da internação.

Em conclusão, a maioria dos indivíduos que foram reabilitados precocemente na UTI responderam ao tratamento e obtiveram melhora da funcionalidade, mobilidade e redução no tempo de internação.

Estudo 3

Um estudo de coorte prospectivo analisou a evolução funcional, mobilidade e força muscular de 90 pacientes críticos internados em três momentos diferentes: admissão na UTI, alta da UTI e na alta hospitalar. Esses receberam tratamento fisioterapêutico convencional de 2 a 3 sessões diárias. Quando receberam alta da UTI para a enfermeira, os exercícios incluíam tanto a função respiratória quanto motora de acordo com a força basal de cada paciente.

Os resultados demonstraram melhora significativa na mobilidade, equilíbrio e capacidade funcional, com discreta evolução da independência funcional no momento da alta hospitalar, quando comparado com o momento da admissão e alta da UTI.

Estudo 4

O nível de funcionalidade foi avaliado com base na escala Perme. A avaliação ocorreu no primeiro dia de UTI e na pré-alta hospitalar. Por meio da intervenção fisioterapêutica observou-se uma redução significativa na dispneia e dor, além de melhorias na mobilidade funcional e aumento na força muscular periférica na fase de alta hospitalar.

Estudo 5

Estudo piloto, avaliou a força muscular dos extensores e flexores de joelho de 22 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca eletiva. A avaliação ocorreu no pré-operatório, no dia seguinte após a alta da UTI e na alta hospitalar. Foi realizado fisioterapia respiratória e motora no pré e pós-operatório, duas vezes ao dia, com treino de subir e descer escadas, deambulação, alongamento muscular, cinesioterapia ativa e assistida nos MMSS e MMII.

Os resultados mostram que ao comparar a força do pré-operatório com os demais momentos, notou-se uma redução de 29% para a extensão de joelho e 25% de flexão do joelho após alta da UTI e ao comparar a avaliação pré-operatória com a da alta hospitalar.

Assim, foi observado que os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos podem desenvolver fraqueza muscular periférica no pós-operatório. No entanto, com a fisioterapia há tendência de ganho de força nos dias subsequentes até o dia da alta hospitalar.

Estudo 6

Outro estudo verificou o efeito do exercício passivo com cicloergômetro na força muscular, tempo de VM e internação hospitalar. Para mensurar a força muscular foi utilizada a escala do Medical Research Council (MRC) antes e depois da realização do protocolo.

O grupo controle recebeu tratamento fisioterapêutico convencional (motora e respiratória) 7 vezes por semana, 2 vezes ao dia, por cerca de 30 minutos, já o grupo intervenção recebeu sessões adicionais de exercício passivo por meio do cicloergômetro de MMII, por aproximadamente 20 minutos diários, durante 5 vezes por semana.

Ambos os grupos obtiveram aumento da força muscular periférica, porém o grupo intervenção alcançou melhores resultados que o grupo controle. Não houve alterações com relação ao tempo de VM e internação hospitalar.

Estudo 7

Outros autores por meio de um estudo randomizado também investigaram os efeitos do cicloergômetro associado à fisioterapia convencional na espessura muscular do quadríceps femoral de pacientes críticos internados na UTI. O grupo controle recebeu exercícios motores na forma passiva, ativa, ativa-assistida tanto para os MMSS quanto para MMII. Já o grupo intervenção, recebeu o mesmo tratamento adicionado a utilização do cicloergômetro para MMII.

Contudo, observou-se que a aplicação precoce do exercício passivo por meio do cicloergômetro associado à fisioterapia convencional, não promoveu alterações na espessura muscular do quadríceps femoral. Porém os autores sinalizam que a fisioterapia convencional, conservou a espessura do músculo na primeira semana de estadia na UTI.

Estudo 8

Por fim, um ensaio clínico randomizado conduzido por 14 dias consecutivos, avaliou o tempo necessário e os efeitos de um protocolo com estimulação elétrica na arquitetura muscular de pacientes com lesão cerebral traumática internados na UTI.

Os dois grupos receberam a fisioterapia de rotina da unidade, porém o grupo intervenção foi submetido também à estimulação elétrica bilateralmente nos músculos quadríceps femoral, isquiotibiais, tibial anterior e gastrocnêmio, durante 25 minutos.

Os resultados mostraram que a estimulação elétrica foi eficaz na preservação da arquitetura muscular, no aumento de força e redução de distúrbios eletrofisiológicos neuromusculares como a fraqueza e atrofia muscular. Ainda, no grupo intervenção outro resultado favorável foi um aumento no pico de força evocado, em média 2,34 kg/f durante os 14 dias da pesquisa, enquanto que no grupo controle houve um decréscimo de - 1,55 kg/f a partir do 7° dia do estudo.

Conclusão

Diante da análise de todos esses estudos, foi possível concluir que a fisioterapia motora realizada em pacientes críticos assistidos em UTI demonstrou ser uma terapia segura e eficiente, capaz de minimizar os efeitos deletérios causados pelo repouso prolongado e pela imobilidade no leito. Dentre os benefícios podemos observar resultados favoráveis para reversão da fraqueza muscular periférica e preservação da musculatura durante a estadia na UTI, além de redução da dor e dispneia, diminuição do tempo de desmame e internação, aumento da capacidade funcional, mobilidade e qualidade de vida.

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